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Quando nasce um bebê, nasce uma mãe. E um pai?

A mãe não tem muita escolha: seu bebê nasceu e ela precisa nascer. Ela é obrigada, exigida, impulsionada pela sua própria natureza. Já o pai, leva alguns meses para perceber a grande mudança que se inicia em sua vida a partir daquele instante que seu filho veio ao mundo.


Diante desta diferença de percepção da nova realidade, é comum sentirmos – como mãe – o peso da injustiça divina sobre nossas vidas: o bebê só quer a mãe. Só sua mãe que o basta. O pai, desajeitado, tenta segurá-lo, e ele chora. Tenta trocar sua fralda, e ele chora. Tenta fazê-lo dormir embalado em seu colo... e ele chora. A mãe, logo pensa que o problema todo está no pai, que não “tem jeito” com o bebê. Mas a grande verdade é que – neste primeiro momento da vida – todo mundo precisa de uma mãe. Inclusive um pai.


Além disso, a mãe passa a amamentar incansavelmente seu filho por longas noites, enquanto o pai nem se mexe com o choro – tão alto – de seu recém-nascido. A mãe olha para aquele homem que dorme profundamente e pensa como ele pode descansar com um bebê que chora de hora em hora. Ela atende o bebê de imediato, poupando o pai para seu dia seguinte de trabalho. E adormece indignada, sabendo que daqui a alguns poucos minutos, acordará novamente. E mesmo que ela não queira, o bebê a acordará. E novamente não acordará o pai, por um simples mecanismo de perpetuação de nossa espécie: a frequência sonora daquele chorinho específico programou apenas o cérebro materno para que ele desperte assim que a ouvir, independente do estágio de sono em que se encontra. Já o homem - que se encontra em estágios profundos do sono - não será capaz de ouvir o choro do bebê. E não é de propósito.


O que acontece em seguida e se repete em quase todos os lares que eu atuo é previsível: a mãe passa a centralizar as tarefas com o bebê acreditando que o pai não fará tão bem quanto ela; o pai – poupado pela mãe e justificado em argumentos como “só ela resolve” – habitua-se a sua mais nova zona de conforto: a passividade no cuidado diário do filho. Ele chega, o bebê sorri; ele o pega, brinca, gargalha, joga pra cima... e devolve pra mãe fazer dormir. E ali, por trás do sorriso desgastado dessa mãe, cresce a raiva pelo pai. Não demora muito para esse casamento começar a desmoronar.


Mãe, permita que seu companheiro possua tarefas diárias com o bebê. Ele deve ter obrigações e compromissos, a partir do momento que o bebê nasceu. Permita que ele se desenrole, se ajeite, se reconfigure. Não crie o mar do conforto para ele navegar. E você, pai, resgate sua companheira da caverna escura e solitária da maternidade no pós-parto. Pegue o bebê, dê conta dele. Deixe a mãe descansar, dormir. Carregue o bebê no sling durante a noite, se preciso for. Mas doe seu máximo neste momento para aliviar um pouco a grande carga de responsabilidade que a mulher que você ama recebeu – juntamente de você - e que, com toda certeza, não deve nem precisa carregar sozinha. Que nasça o pai!

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