O COMEÇO DE TUDO
Sempre me considerei uma mulher forte. Independente desde cedo, sempre corri por mim mesma atrás de sonhos e desejos. Nunca me prendi a padrões de comportamento, beleza ou vida. Com 16 anos queria fugir da casa de meus pais para ter “minha própria vida”. Rebelde desde sempre, com 21 passei na faculdade e fui morar fora, conquistando parcialmente uma pequena liberdade de ir e vir e fazer o que tinha vontade sem a supervisão de meus pais. Formada aos 25, decidi abocanhar esta liberdade de vez e me organizei para uma mudança radical de vida: vir para MG tentar um novo caminho profissional e consequentemente, pessoal.
Nascida em Limeira (SP), me mudei para Viçosa (MG) dia 21 de abril de 2010. Dia 24, estava nos braços do meu grande amor, em um encontro instantâneo de almas e vidas. Não podia imaginar que ali começava esta história, que conto aqui por meio de palavras que muito me custaram a elaborar.
A construção de uma história
Apesar do intenso relacionamento com meu companheiro e consequente casamento, nunca quis nem planejei ter filhos. Meu marido, ao contrário de mim, sempre falou no assunto e demonstrava forte desejo de ser pai. Discordamos muitas vezes em conversas e argumentações sobre ter ou não ter filhos. Porém, apesar de não termos atingido um ponto em comum sobre o assunto, concordávamos que ainda não era a hora de pensar sobre isso. Tínhamos muitos outros planos antes de cogitar esta possibilidade. Ainda queríamos viajar pela Europa, construir uma casa e trabalhar para fazer grana. Eu, inclusive, sempre trabalhei muito. Minha profissão não me permitia o meio termo. E dentro de mim pulsava uma grande ambição profissional que um filho certamente não me permitiria alcançar. E para que ele não viesse em momento errado, sempre me precavi com métodos anticoncepcionais de confiança.
Nunca desconfiei estar grávida, em momento algum da minha vida, tamanha era minha segurança e decisão. Nunca titubeei em relação a isso. Nunca havia feito um teste de gravidez, nem sabia o que era, nem como se fazia. Mas naquela noite de terça-feira em que fui a farmácia comprar um novo ciclo de anticoncepcional, que eu deveria iniciar naquela noite, pedi a atendente um teste de gravidez. Não havia menstruado naquele intervalo entre um ciclo e outro e apesar disso já ter ocorrido outras vezes – por se tratar de um anticoncepcional que contribuía para uma redução considerável do fluxo menstrual - algo dentro de mim dizia que havia alguma coisa de diferente ali.
Comprei o teste tendo certeza do resultado negativo. E me surpreendi com os dois traços fortemente rosados que apareceram bem diante de mim, me fazendo engolir seco e desacreditar dos meus próprios olhos. Sim, eu estava então grávida. Aos 29 anos.
Passei alguns dias deprimida com a notícia. Mesmo após contar a novidade para meu marido, que vibrou logo quando a ouviu, aquilo não fazia sentido para mim. Meu corpo, minha vida, meu tempo iriam mudar para sempre. Eu sabia disso e de fato, não queria aquilo. Não me sentia pronta, mas como logo eu logo agora, grávida? Agora que engrenei na minha carreira profissional, agora que meu casamento esta de vento em popa, agora que emagreci 5 quilos, agora que tenho grana pra poder fazer a viagem dos meus sonhos... logo agora? Sim, Debora, AGORA. Chegou a sua hora de ser mãe!
Esta reflexão foi tão profunda que logo se apoderou de todo o meu corpo. Passei a aceitar a gravidez como uma escolha não minha, mas do meu filho (por incrível que possa parecer, eu já sabia que era um garoto) de vir a esta terra e nos escolher para sermos seus guias. E tão logo aceitei, passei a amar o estado de graça que me encontrava. Me sentia linda e divina, literalmente. Sentia que o espírito de amor habitava em mim de uma maneira nunca antes sentida. Sentia que eu era deus. Ou deusa. E era.
Tão logo, passei a pensar no parto. Nem imaginava o que era um parto humanizado ou qualquer coisa deste tipo. Tinha alguma ideia sobre parto na água ou de cócoras, mas nada muito profundo. O que eu sabia mesmo é que não queria uma cesárea e nem sabia o por quê disto.
Procurei me informar com amigas com filhos como havia sido o parto delas. Logo cheguei ao nome da profissional Carolina Duarte, que me acolheu carinhosamente e que de cara elegi como minha doula. Passei a frequentar os encontros do grupo de casais grávidos que ela coordenava, juntamente com meu marido. Aos poucos, fomos nos informando cada vez mais e nos alimentando de motivos e razões para o que passou a ser a nossa primeira escolha: um parto domiciliar.
Ao longo da gravidez, nossa vida enveredou por outro rumo e tomamos a decisão de nos mudarmos para Belo Horizonte, por motivos profissionais. Apesar da dor de abandonar uma equipe que já havíamos elegido em Juiz de Fora para a assistência de nosso parto, fomos muito bem indicados a uma equipe em BH, que passou a ser a nossa eleita para este, que com certeza seria o maior desafio de nossas vidas.
SOBRE A DOR E O MEDO
Às 00h45 do dia 26 de junho de 2014, acordei com fortes dores abdominais. Há alguns dias já sentia os famosos pródromos, as chamadas “contrações de treinamento”. Era o quinto dia da minha quadragésima semana de gestação e a ansiedade pelo início do trabalho de parto se fazia presente, por mais que eu tentasse disfarçar para mim mesma que não estava aguardando aquele momento chegar. Me levantei da cama, fui ao banheiro e lá fiquei por uma hora sozinha, apenas sentindo as dores e pensando se havia mesmo chegado o momento. E sim, tive certeza de que havia. Voltei para a cama e peguei o celular. Contrações de 5 em 5 minutos. Acordei meu marido e disse: Chegou a hora. Pedi que ligasse para as parteiras, que vinham de longe e para a doula, que morava há duas quadras de nossa casa. Eram duas da manhã. Me deitei na cama e só conseguia ficar de lado, as dores estavam realmente fortes, ora. Peguei o cronômetro e em pouco tempo percebi que as contrações já vinham de 3 em 3 minutos. Entrei no chuveiro, imaginando amenizar a dor com água quente, como os livros diziam.
Ao mesmo tempo em que fiquei apreensiva com a dor, me senti feliz por estar vivendo aquilo. E por estar evoluindo daquela maneira, pensei comigo mesma que ao amanhecer estaria com meu filho nos braços, assim como na maioria dos relatos de parto que havia lido.
Quatro da manhã, as parteiras chegaram. Que bom, elas chegaram, pensei, mas as dores me consumiam. Me lembro que ao chegarem, a primeira pergunta que fiz foi: vai demorar? E com um olhar terno, Karina me respondeu: meu amor, eu não posso te dizer nada em relação a isto... estamos aqui para te acompanhar o tempo que for necessário.
Odete e Karina são enfermeiras obstetras e juntamente de Miriam e Janaína, formam uma equipe que atende partos domiciliares em Belo Horizonte. Foi amor à primeira vista. Quando fui abraçada a primeira vez por Odete, o amor surgiu instantaneamente. Tive certeza que seria ela quem faria meu parto. Tive certeza. Nosso vínculo não é desta vida.
Minha lombar rasgava em fogo. Fui da cama para o chuveiro inúmeras vezes e recebia massagens de meu marido e de minha doula, Kalu, com quem havia me identificado desde o primeiro olhar e a quem eu já tinha como amiga. Mas a dor não diminuía, eu pensava, onde esta dor vai me levar, se está assim agora, como será daqui pra frente?
Em algum momento, quando o sol raiava, voltei para a água e comecei a sentir grande vontade de fazer força. A banheira já estava cheia e entrei nela como quem vai para o grand finale. Havia chegado o momento enfim, pensei, meu filho estava chegando, assim como todos os relatos diziam, quando chegava este momento o bebê nascia em poucos minutos. A minha dor então acabaria, pensei novamente, e tudo ficaria bem de novo. Até que a dor não foi tanta, não era tudo isso que diziam.
A equipe foi se preparando para a chegada do Davi. Karina me perguntou qual seria a roupinha, a mesa estava posta com os instrumentos e materiais que elas supostamente usariam naquele momento. Me concentrei em fazer toda força quando as contrações vinham, afinal estava quase acabando tudo, pensava. Mas não. Eu ainda pensava.
A manhã foi se estendendo. O sol estava alto, e meu bebê ainda não havia chegado. Apreensiva, pedi o toque. Odete não se mostrou muito propícia naquele momento. Kalu me perguntava se eu tinha certeza, eu dizia que sim, precisava saber em que ponto da montanha eu estava, precisava. Enquanto pensava nisso, elas se ausentaram do quarto para fazer almoço – almoço, nossa, que horas são – e eu fiquei a sós com meu marido, que me olhava docemente, com todo seu zelo e amor transbordantes.
Xavier esteve ali desde sempre. Desde aquela ligação onde contei a ele minha suspeita da gravidez, quando na verdade já tinha certeza. Ele esteve presente em todos os momentos daquela gestação. E se fazia absolutamente necessário naquele momento. Simplesmente vê-lo no ambiente onde eu estava me trazia uma segurança inabalável e a certeza de que tudo acabaria bem. E ele se manteve firme ali, na minha frente, me tocando, me amando, me admirando, me fortalecendo. Sua energia me abastecia.
Minha energia estava baixa. Minha última refeição havia sido na noite anterior e já faziam ali pelo menos 16 horas que estava de estômago vazio. Mas não conseguia nem pensar em comer. Já havia vomitado em algum momento da manhã, depois de uma intensa contração. Kalu veio me oferecer almoço com sua voz doce, que me acarinhava os ouvidos e o coração. Mas eu queria meu toque. Não havia desistido de saber como as coisas estavam ali dentro.
Então Odete me tocou. Seu rosto mostrava traços leves de preocupação. Perguntei o que estava acontecendo, eu que já quase não falava, queria ouvir a verdade. Retirando a luva, ela disse: está de 6 pra 7. De 6 pra 7, como assim, faz horas que estou aqui com esta dor, ainda falta muito, não vou aguentar. E no rosto dela a preocupação permaneceu. Então, ela disse que havia sentido um coágulo no meu colo, e que além disto ele estava inchado e com as bordas bem espessas. O que, segundo ela, dificultaria ainda mais a dilatação faltante.
Foi então que eu pensei a primeira vez em desistir. Naquele momento, achei que esta coisa de parir não era pra mim. Ali, entre eu e ela, afirmei: vai demorar ainda né... E ela me olhou profundamente e disse: Se entrega, minha amada. Você está tensa, reprimindo sua dor. Isso está contribuindo para este edema de colo que esta se formando aí. Você precisa relaxar...
Então, respirei fundo e voltei pro chuveiro, decidida a relaxar e a fazer meu colo dilatar. Afinal, queria aquele parto em casa. Mentalizei muito, cantei internamente, falei com meu filho e rebolei, rebolei muito. A dor só aumentava e os puxos continuavam. Rebolar era um suplício. Mas foi ali que percebi o quanto estava represada. Custei a mexer meu quadril um centímetro sequer. Depois de algum tempo – tempo que a mim estava ausente – sai do chuveiro e me deitei para mais um toque. 7 pra 8, com diminuição do edema! Me senti poderosa de ter conseguido evoluir sozinha.
Odete disse suspeitar de rotura alta da minha bolsa, pois eu estava perdendo líquido, mas de forma muito sutil a ponto de nos confundir. Disse que meu bebê ainda estava a menos um, ou seja, havia descido somente um pouco. Perguntei que horas eram, e para minha surpresa já eram três da tarde. Já estávamos ali há mais de 12 horas.
O bebê ainda não havia chegado ao zero, ou seja, ainda precisava descer muito... Odete disse que a rotura alta da bolsa prejudicava a descida do bebê, pois a pressão perdia a força necessária para dilatar o colo do útero. Foi então que decidimos pela primeira intervenção. A equipe sugeriu romper a bolsa por completo para que a cabeça de Davi fizesse a pressão necessária para o colo do útero terminar de dilatar. Não costumam realizar o procedimento em partos que assistem, mas naquele caso acreditavam que ajudaria o processo. Aceitamos de imediato, pois uma das premissas da escolha da equipe é a confiança.
Antes de romper, fui avisada: Debora, agora a dor vai ficar um pouco mais intensa. Ok, tudo que eu mais queria era que aquilo terminasse e acreditava que ajudaria mesmo o processo. Tô aceitando! Foi então realizada a rotura total da bolsa e a amnioscopia, para verificar a presença de mecônio. Líquido claríssimo! Nada a se preocupar. A equipe vibrou. E meu coração também por mais um passo da caminhada dado.
Ficamos ali então, mais algumas horas. Já avançávamos 18 horas de TP. A dor já havia transcendido o meu espírito. Não me lembro bem ao certo a que horas aconteceu o terceiro toque, com 8 para 9 de dilatação e bebê em grau 1, girando em OS. Odete novamente com a face preocupada, sugeriu que manobrasse o giro do bebê durante uma contração. Eu estava com sangramento constante desde a tarde, e isso preocupava a equipe. Aceitei a intervenção e ela manobrou o giro do bebê ao entardecer.
Tendo feito isso, ela me disse ainda sentir o coágulo ali no meu colo. O sangramento não parava. A preocupação tomou conta de meu marido, que já estava há tempos segurando muito bem seu emocional para não me contaminar com seu medo. Mas em mim, o medo dominava.
A PARTE MAIS DIFÍCIL DA MINHA ESCALADA
Eu já não suportava aquela dor, não suportava imaginar o que ainda viria pela frente. Sabia que não tinha volta mais. Sabia que eu tinha de encarar aquilo sozinha, que era eu e eu. E meu bebê, querendo nascer sem oscilações significativas de batimentos cardíacos durante aquele tempo todo. Foi então que, com pesar, a equipe me sugeriu a transferência para o hospital Sofia Fieldman.
A sugestão era de analgesia peridural. Assim, segundo Odete, seria possível que eu relaxasse e o colo terminasse de dilatar. Assim, eu conseguiria comer algo e recuperar as forças para o expulsivo. Assim, o meu parto normal seria possível. Eu me perguntava: Por que? Por que temos de ir pra lá? Por que eu não consegui? Por que justo eu, tão forte e corajosa, não consegui parir meu filho em casa, como sonhávamos eu e meu marido?
Nessa hora, me lembrei de tantas conversas no Gerando, grupo de gestantes que frequentei ao longo de minha gestação e ao qual devo muito deste parto ter acontecido. O melhor parto é o parto possível. Sim, para mim, o parto com algumas intervenções, todas necessárias, seria meu parto possível.
Não questionei a equipe. Aceitei a sugestão, entendi que todos os limites físicos, emocionais e técnicos haviam sido atingidos. Odete disse ter feito tudo que lhe era possível para viabilizar aquele parto em casa. Mas não dava mais.
Então, essas mulheres incríveis que me acompanhavam e meu nobre marido começaram a ajeitar as coisas para sairmos. Eram oito e meia da noite. Me perguntaram sobre a mala da maternidade, e eu: oi? Não tinha mala nenhuma, tamanha certeza eu tinha que aconteceria em casa. A mala foi feita ás pressas, eu já não pensava mais.
No caminho, Odete foi no banco de trás comigo com uma luva em punho para caso Davi resolvesse então chegar. Kalu ligou para o Sofia e explicou a situação, abrindo as portas para nossa chegada.
Chegamos. Fui direto para sala de analgesia, recebida pelo enfermeiro Cristóvão. Nunca me esquecerei das pessoas que encontrei neste dia. Meu marido foi a recepção preencher papéis e entregar meu plano de parto, que ironicamente, havia sido escrito para caso fosse necessária uma transferência. Kalu segurava fortemente a minha mão.
Cristóvão me tocou e disse: nossa, você está com 9 de dilatação. Daqui a pouco seu bebê estará em seus braços. Sorri, durante a última contração dolorosa que senti, e imediatamente veio o alívio da anestesia.
Eram 11 horas da noite. Fomos encaminhados à sala de parto. Tomei banho, comi bem e entrei na banheira, preparada para o momento que tanto esperei. Meu marido, apreensivo ainda, estava lá. E como estava ali, tão presente, tão inteiro, com amor transbordando de seu olhar, com olhar de admiração e ao mesmo tempo de zelo, proteção e um pouco de medo. Sim, medo.
Os anjos neste dia nos brindaram com todas as portas abertas. Odete, Karina, Kalu e Xavier entraram na sala de parto para me acompanhar. A enfermeira responsável – Isabel - apenas assistiu como todos. A ocitocina foi ligada em dose mínima. Pedi mais. Era chegada a hora. Passei a sentir os puxos novamente.
Na banheira, eu e meu marido. Nos escorávamos a cada contração. Foi então que em algum momento, senti ele chegando. Sim, senti ele descendo, descendo ali na minha bacia, e agora então na minha vagina. O tal círculo de fogo chegou com tudo, pensei, então é essa a dor que todo mundo fala, ai, e gritei: É ELE!
Coloquei a mão e senti sua cabeça ali. Meu marido, na minha frente, me olhava com um misto de susto e admiração. Eu dizia, meu amor, é o Davi, ele tá chegando, é ele... e então a cabecinha começou a sair. Xavier estendeu a mão e segurou meu períneo, amparando Davi que saía lentamente.
E então, às 02h23 do dia 27 de junho de 2014 ele veio. Veio lindo, direto pro meu colo, olhei pra ele e beijei a boca dele imediatamente. O seu primeiro chorinho foi tímido, baixinho... abriu os olhos e me olhou. E ali, o tempo parou. Ficamos então ali, eu, Davi e Xavier. Apenas ficamos. Em silêncio, nos olhando, nos (re)conhecendo. Nos amando. Não sei quanto tempo depois o cordão foi cortado pelo pai, Davi foi para o colo dele e eu me levantei da banheira para parir a placenta.
Deitamos na maca e esperamos. Em torno de 04h da manhã, ela veio grandiosa, pesada, toda a nutrição que meu filho recebeu estava ali, materializada nele e naquela placenta. Pedi que a guardassem, pois queria leva-la. Era hora então de verificar a necessidade dos pontos. Sim, foram necessários muitos. Tive uma laceração de quarto grau, muscular. Meu filho desceu pelo canal vaginal juntamente de um pedaço de carne desconhecido – todos ali opinaram a possibilidade de ser um mioma; foi encaminhado para análise, mas até agora o resultado não voltou. Este pedaço de carne media aproximadamente 10 cm e veio junto da cabeça de Davi. Dificultou muito sua passagem e ajudou a me machucar mais. Aquilo explicava a cara de susto do Xavier quando a cabecinha apontou... (risos)
Hoje olhando para aquele dia e revisitando minhas emoções novamente, percebo o quanto idealizei aquele momento. Por mais que dissesse que não, as muitas histórias que costuravam meu imaginário a respeito deste momento contribuíram para que eu traçasse em minha mente toda a trajetória que supostamente eu iria passar. Por mais que dissesse que a dor não me preocupava (disse isso ao longo da gestação toda, afinal, eu era uma mulher forte, lembra?) era ela o meu receio, era ela que engordava o monstro que me consumia: o MEDO.
Minha cabeça não parou de pensar o tempo todo. Digo com toda sinceridade e humildade que a experiência me trouxe que a tão sonhada partolândia não foi alcançada por mim. Não conheci o lugar de prazer relatados em maravilhosas histórias de partos bem sucedidos.
Mas eu venci. Eu tive o meu tão sonhado e trabalhado parto possível, que se realizou lindamente, da forma como eu e meu amor sonhávamos. Recebemos Davi da melhor maneira possível, lindo e saudável, com APGAR 9 no 1o minuto. Meu guerreirinho encarou firme comigo as 27 horas de trabalho de parto intenso e literalmente trabalhoso. Mamou em sua primeira hora de vida e foi acolhido pelos pais. Tomou seu primeiro banho mais de 24 horas depois. Não sofreu nenhum tipo de violência nem trauma, a não ser o do próprio nascimento, este a maior transição de nossa vida.
Talvez meu parto não seja digno de sites e grupos de parto natural e não seja um exemplo de parto perfeito. Mas para mim, significou a superação de todos os meus limites, físicos e emocionais. Foi também o início de um aprendizado. Aprendizado este que continua com o puerpério e com a chegada da maternidade. O aprendizado de viver um dia de cada vez - e por que não dizer - um minuto de cada vez. De valorizar as pequenas grandes coisas da vida - o abraço de mãe, o sorriso acalentador da enfermeira, o beijo apaixonado de seu homem, o olhar do seu bebê. Uma noite melhor dormida, uma xícara de chá. O nascer do sol, o cair do dia. Aprendizado este em contínuo processo dentro de mim. E espero que, para sempre.
Fica aqui meus sinceros e mais profundos agradecimentos a todos que estiveram presentes física e emocionalmente nesta gestação, parto e pós parto. Sem vocês, não seria possível.
Muito amor, Debora Gonçalves Coghi 05 de setembro de 2014.
Comments