Antes de eu me tornar mãe eu pensava – como muitas de nós - que as mulheres eram todas minhas inimigas. Pensava que elas sempre iriam querer me passar pra trás, sendo amigas ou não.
Assim como muitas, eu cresci ouvindo - muitas vezes de outras mulheres - que mulher não servia pra confiar.
Na minha essência de menina já estava enraizada – mesmo que velada - a crença de que não se podia confiar em mulher nenhuma, principalmente se ela fosse bonita.
Desta maneira, sempre me senti ameaçada quando uma amiga se aproximava de meu namorado, o abraçava, ria com ele, ou qualquer outra manifestação social inofensiva. Nunca consegui me entregar para uma relação de amizade com outra mulher, sem sempre ter um pezinho atrás. Tinha certeza que eu poderia ser traída – por ela.
Assim sendo, eu repeti durante anos padrões de comportamento competitivos quando na presença de mulheres. Para me sentir a altura das outras, eu me obriguei a vestir roupas que nada tinham a ver comigo, ia a lugares que muito menos e reproduzia – sem consciência - discursos machistas como “muita mulher junto não dá certo”, “só tenho amigos homens por que me dou melhor com eles do que com mulheres”, entre tantas outras frases que proferimos sem consciência do que elas significam, na maior parte das vezes.
Com a chegada da maternidade na minha vida, muita coisa mudou e a primeira delas foi a relação com as mulheres. Durante o meu parto e o meu pós parto, pude contar com a presença de mulheres sagradas que me acolheram, abraçaram, choraram comigo, me ensinaram, me deram colo. Mulheres que me mostraram o quanto podemos suportar umas as outras, principalmente em momentos de crise. Mulheres que me olharam dentro dos olhos, e enxergaram aquela alma perdida ali, diante daquele bebê recém-nascido.
Meu parto foi longo e exaustivo, e no pós parto imediato, estive no momento mais frágil de toda a minha vida. Toda mulher precisa de ajuda neste momento, mas eu me esforçava pra não precisar, pra dar conta de tudo, pra ser uma super mãe e ao mesmo tempo uma super mulher. Vivia aos prantos por sentir que não suportaria sozinha. Chorei por saber que eu precisava delas.
Foi ali que eu descobri, de fato, a força sagrada e feminina. Não só por que o parto é um evento feminino grandioso, que nos traz pra fora uma força descomunal, uma força que jamais imaginávamos que tínhamos, mas também por que ele foi, pra mim, uma cura quase que instantânea: me trouxe para o outro lado do muro, me limpou os olhos da cegueira patriarcal há tantos anos instalada e empoeirada dentro de mim.
Toda e qualquer competição feminina nunca mais existiu em minha vida, a partir daquele momento. Deixei de sentir ciúmes, posse, inveja e o ímpeto de competir. Os abraços femininos que recebi me fizeram ter certeza do valor, da segurança, da firmeza, da força deles. E a partir dali, eu quis distribuir estes mesmos abraços a tantas outras mulheres que precisariam deles tanto quanto eu precisei naquele momento tão desafiador de minha vida.
Meu coração é pleno de muitas mulheres que pude ajudar ao longo de minha trajetória como consultora domiciliar. Entrar no âmago delas me faz ter cada vez mais certeza de que a missão de minha vida é essa. Fazer com que elas se encontrem e cresçam: como as águas!
Fotos: Kalu Gonçalves
Comentarios